NO TEMPO DA DITADURA
Fui uma criança como tantas outras neste pa ís
Que muito cedo foi trabalhar
Sou de uma família numerosa
E mesmo o poucochinho dava para ajudar
Nem aos domingos me safava
Ia com um padrinho da minha mãe
Fruta ia vender para fronteira Vilar Formoso
E a aldeia de Nave-de-Haver
Chegados à fronteira
Já com a fruta na banca montada
Pela manhã ia a Fuentes de Onoro
As compras que ela me mandava
Era já uma rotina aos domingos
Lá na banca gente estranha se juntava
Sempre que me deslocava de Fuentes
Atrás de mim seguia gente carregada
Como conhecia os caminhos
A madrinha da minha mãe Pedia para os levar
Eu espreitava na estrada
E só depois mandava avançar
Os Guarda-Fiscais eram como cães
Passavam de bicicleta a fiscalizar
E os senhores da PIDE
Sempre os fintei até me deixar apanhar
Tinha apenas quinze anos e um dia
Quando de Fuentes estava a regressar
Fui abordado por um PIDE de chapéu
Que me agarrou e me obrigou a acompanhar
Levou-me então para a alfândega
Onde o interrogatório tive que aturar
Não percebia o que me diziam
Estavam sempre a dizer que pessoas andava a passar
Passei ali o dia inteiro
Como outros que também se tinham deixado apanhar
E um houve que me explicou
Estão-te a acusar de pessoas andares a passar
E foi aí que pela primeira vez
Que soube que era um passador
E comecei a ter medo da PIDE
Que torturavam até um menor
Luís Pragana
25-07-2008